Memórias


Pode parecer estranho, mas uma das lembranças mais antigas que tenho sobre a minha relação com automóveis é de uma noite em que estava dando um rolê com meu pai, não sei por onde, a bordo de um Fordinho  de cor verde escuro, à manivela, e que vivia quebrando, principalmente quando trefegávamos em um local perto de casa, chamado Palmas, no bairro do Jardim Tremembé, na Zona Norte de São Paulo.

O que me marcou muito num daqueles passeios foi uma luz, tipo pisca-pisca, de cor vermelha, que havia no centro do painel, e que parecia um botão de fogão, daqueles bem antigos, e que às vezes ele girava, ora para a esquerda, ora para a direita, e aquela luz piscava como um vagalume, e nós dois ali naquela cabine rústica e escura, cheirando à gasolina.



Não queria parecer tão velho assim, mas pensando melhor, depois de algumas pesquisas, cheguei à conclusão de que o tal modelo ao qual me refiro, trata-se na verdade de um Fordinho 28, como esse da foto aí de cima, e não como o da primeira foto no alto da página; por que, parece-me, aquele primeiro (ano 34) já não usava manivela, enquanto este último sim. E a cor verde também era bem original, o que não me sai da lembrança. Só que o modelo do meu pai não era assim tão impecável como o dessa foto. Lembro-me também que, sempre que se referia àquele caminhãozinho, ele dizia ser um "Ford bigode". Então acho que estou na pista certa.


Apenas muitos anos mais tarde, já nos anos 70, é que eu viria a morrer de vergonha, desfilando com o Velho pelas ruas do Lausanne Paulista, a bordo de uma barcona branca como essa da foto aí de baixo, um Ford coupe 1940, quando então vários Fuscas, bem mais modernos, já circulavam pela cidade; )